A taxa de abandono escolar desceu, na última década, 13,7%. É positivo, sim, mas é preciso analisar o ensino doutra forma. Que significa isto? Mais conhecimento e habilitações? Não. Se isso correspondesse a um aumento de sucesso escolar, a uma maior preparação para o mundo do trabalho seria, sem dúvida, positivo.
Em Portugal, parece que se tornou proibido chumbar. No sistema actual de ensino só não consegue transitar de ano quem não quer. Tem-se tentado, a todo o custo, obter “sucesso estatístico”, através de um facilitismo visível na diminuição dos níveis de exigência implícitos nos critérios de avaliação. A escola pública foi reduzida a um mero contentor, onde os alunos não são ensinados e os professores, devido a critérios de avaliação indicados pelo Ministério, são praticamente obrigados a aprovar todos os alunos, independentemente do seu real aproveitamento e dos seus conhecimentos.
Neste ano lectivo houve 48% de negativas na prova de Matemática do 9º ano, no ano passado houve 33%. Por outras palavras, bastou uma prova ligeiramente mais difícil para ser esta catástrofe. Isto prova a “falência” do actual sistema de ensino. A indisciplina reina e a autoridade dos professores é nula. É urgente inverter esta lógica.
Todas as crianças e jovens devem ter acesso ao ensino público, sim. Mas o mérito, a assiduidade, o esforço e a disciplina devem ser valorizados, apoiados e até recompensados. O sistema de produção dos exames nacionais actual não tem como objectivo avaliar os conhecimentos adquiridos, apenas pretende obter sucesso estatístico. É urgente uma maior objectividade, transparência e rigor no sistema de produção dos exames nacionais, com aprovação de instituições científicas independentes das diversas áreas da avaliação. É também importante dar maior liberdade administrativa e pedagógica às escolas, com vista a uma maior adaptação à sua área envolvente. Um (des)governo que não compreende o actual estado do ensino e continua com um comportamento autista só pode ter um destino: a saída.
Portugal atravessa uma crise profunda e o caminho para a recuperação será difícil, muito difícil! Por isso, a próxima geração tem que ser melhor preparada para enfrentar os problemas do País e do mundo actual.
Hélder Rodrigues in Notícias do Barreiro (21 de Julho de 2010)
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